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Países do Hemisfério Norte superam o Brasil na produção de animais da fauna brasileira.
" ...O brasileiro não pode correr o risco de ter que aprender a falar Inglês para entender os papagaios..."
Nas últimas décadas, os países do hemisfério norte transformaram-se em grandes criadores legais de animais originários de locais como a Amazônia e o pantanal. A lista inclui também as araras, os iguanas e os periquitos. O que impressiona é que a reprodução em cativeiro dessas espécies naqueles países já é maior do que no Brasil. A Inglaterra, com temperatura média de 5 graus nos meses de inverno, produz e exporta legalmente quase dez vezes mais sagüis do que o Brasil. A Holanda tornou-se a terra dos papagaios, e de lá saem legalmente vinte vezes mais desses bichos do que no Brasil. Os animais da fauna Brasileira engordam o mercado mundial de pets, que movimenta 56 bilhões de dólares por ano – mas quem lucra com isso são os criadores europeus e americanos.
O que está por trás de desenvolvimento dessas criações é um avanço tecnológico notável. Foi possível produzir animais exóticos em larga escala no hemisfério norte após anos de estudos sobre como esses bichos se alimentam, se reproduzem e quais a temperatura e o tamanho ideal de viveiro para cada espécie. No caso de araras e papagaios, uma das principais revoluções foi a produção em laboratório de um tipo de secreção normalmente expelida pelas aves adultas, que serve de alimento aos filhotes nos primeiros quatro dias de vida. Com isso, além de fazer a incubação artificial, tornou-se possível alimentar os filhotes artificialmente. Os cativeiros hoje são gerenciados por computador e têm aparelhos de raio X e ultra-som para acompanhar a gestação. Isso tudo permitiu um ganho de escala que ajudou a reduzir os preços.
Nos últimos dez anos, os criadores começaram a oferecer espécies legalizadas a preços competitivos, mais saudáveis e mais dóceis do que as que são encontradas livres na natureza. O mercado de aves de companhia cresceu muito na Europa, hoje um grande produtor. Os grandes criatórios estão na Holanda, na Alemanha e na Áustria. “É mais fácil arrumar um papagaio ou uma arara aqui na Europa do que mandá-los vir do Brasil”, disse a VEJA Pedro Oliveira, criador de aves tropicais na cidade do Porto, em Portugal.
Não são apenas os produtores que lucram com esse mercado. Há uma indústria de acessórios que permite a qualquer morador da Suécia, por exemplo, criar uma arara ou um papagaio como se estivesse em plena Amazônia. No caso das aves, existem gaiolas climatizadas e uma série de vitaminas, substratos e rações compatíveis com o padrão alimentar de cada espécie. Lojas especializadas vendem camundongos para alimentar cobras, além de grilos, baratas e larvas de besouros para aves.. A Fluker`s Crichets Farm, nos Estados Unidos, comercializa em média 20 milhões de grilos vivos por mês e faz entregas até pelo correio. As lojas de animais de estimação americanas, além de uma enorme variedade de répteis, mamíferos e aves do mundo todo, oferecem espécies trabalhadas geneticamente para sofrer mutações que as tornan mais atraentes. Um exemplo me o peixe néon, originário do Brasil. Lá fora, ele é produzido em cores diferentes das encontradas na natureza ou com as nadadeiras bem maiores. Essas variedades abastecem um mercado fabuloso. Nos EUA, 71 milhões de lares possuem animais de estimação.
No Brasil a legislação permite a criação de animais em cativeiro. Faltam criadores bem preparados. “ A cadeia de produção nacional não tem logística nem produção em série para abastecer o mercado. Faltam qualidade e quantidade”, diz Francisco Tavares, da diretoria de fauna do IBAMA. Não existe por aqui nada parecido com o há lá fora, oitocentos e cinquoenta produtores comerciais estão cadastrados no IBAMA. E muitos usam a criação como fachada para “esquentar” os animais. Ou seja, retiram, os bichos da fauna silvestre e os registram como se tivessem nascidos no cativeiro. Com isso, eles podem ser comercializados legalmente. Também não existe tecnologia nacional para esse tipo de produção. “ Mesmo para criarmos espécies nacionais, temos de importar tecnologia da Europa”, diz Paulo Machado, diretor da Aves Vale Verde, que tem 800 pássaros para reprodução. O Brasil, ainda está gatinhando na produção de animais silvestres para comercialização.
Animais capturados nas matas brasileiras são levados para o Hemisfério Norte desde a época do descobrimento. A prática só virou crime 1967, com a criação da Lei de proteção à Fauna. Mesmo assim, traficantes de animais continuam enviando ilegalmente à Europa a aos Estados Unidos milhares de araras, jibóias, papagaios e sagüis. Hoje, o tráfico de animais silvestres movimenta 20 bilhões de dólares por ano no mundo todo. Por isso mesmo, a produção em cativeiro é uma fonte alternativa que ajuda a atender à demanda. Desde 1975, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Silvestres ( Cites, da sigla em Inglês) controla a exportação de animais em 172 países. Segundo a instituição, cerca de 270.000 bichos vivos são comercializados legalmente todos os anos. O dado não inclui o que é vendido internamente em cada país. Nem as exportações entre os países da união Européia. A produção pode ser, ,portanto, muito maior. A continuar assim, não está distante o dia em que a maior parte dos papagaios do planeta vai falar mais inglês do que português.
Autor: Marcelo Bortolotti.
Publicado na Revista VEJA de 5 de setembro de 2007. pág. 100, 101 e 102.
Comentário desse artigo:
Por Silvano Pereira Ferraz. - Presidente da SANO
Essa reportagem veiculada pela VEJA, vem divulgar e esclarecer importantes dados e aspectos ligados à legislação brasileira e mexe com conceitos e até preconceitos que permeia a grande maioria de criadores de aves domésticas. Torcemos e esperamos que esses tipos de reportagens continuem sendo veiculadas na mídia. Nós, enquanto criadores, para defender e proteger nossa fauna, principalmente as aves, na qual somos especialistas, precisamos abraçar e aceitar que a criação de aves silvestres em cativeiro se faz necessária, principalmente aqui dentro do nosso país. Como criador e dirigente de instituição ligada à ornitologia, ou melhor dizendo, a ornitofilia, não me sinto confortável sabendo que países estrangeiros exportam mais papagaios que o nosso país. O brasileiro não pode correr o risco de ter que aprender a falar Inglês para entender os papagaios. Temos um conceito que beira o preconceito entre nós, que é o de que criar aves silvestres em cativeiro é errado e contra a lei. A reportagem mostra que isso não é verdade, e que faltam criadores nacionais para atender essa grande demanda. Acredito que uma legislação mais flexível e mais apoio de entidades ornitológicas, permitiria uma maior evolução da ornitofilia nacional, e quem sabe chegar ao nível dos criadores Europeus. Chegamos ao nível deles nos segmentos de aves exóticas e canários de cor e porte, agora chegou a hora de dedicarmos tempo e recursos no segmento de silvestres.
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